Por Mariana Costa*
Localizacao do Acre Brasil e Bolivia
A região do Acre, localizada na fronteira amazónica, é uma das poucas áreas da Amazónia que são mais acessíveis do lado brasileiro do que dos países vizinhos. Este facto deve-se à navegação pelos grandes rios locais, especialmente pelo rio Amazonas. A Bolívia, durante o século XIX, mantinha uma comunicação escassa com a região do Acre devido a fatores geográficos e económicos.
Contexto Histórico e Geográfico
No século XIX, a Bolívia especializava-se na mineração, explorando jazidas situadas nos altiplanos dos Andes, uma região seca e fria. A produção mineral boliviana era exportada pelo oceano Pacífico, o que não incentivava a exploração de regiões quentes, húmidas e cobertas de selvas como o Acre. Consequentemente, o Acre permaneceu uma área isolada e desabitada pelos bolivianos, à exceção dos povos indígenas não hispanizados.
Colonização Brasileira no Acre
Este isolamento boliviano facilitou a penetração de seringueiros brasileiros no território acriano. Aproveitando-se da facilidade de navegação pelos rios da região a partir do lado brasileiro, os seringueiros estabeleceram-se em áreas ricas em seringueiras, ignorando as fronteiras nacionais. Assim, formou-se uma comunidade brasileira sólida no Acre, sem que o governo boliviano em La Paz se apercebesse inicialmente.
Os brasileiros extraíam o látex e exportavam-no pelo porto fluvial de Manaus, que possuía infraestrutura adequada para grandes navios oceânicos. A estrutura extrativa e exportadora desenvolvida no Pará e no Amazonas facilitou este comércio, consolidando a presença brasileira na região.
A Reação Boliviana
Ao constatar que seus territórios selváticos estavam sendo povoados por brasileiros, o governo boliviano decidiu agir. La Paz enviou tropas e autoridades ao Acre para cobrar impostos e controlar a extração de borracha. O governo brasileiro, sediado no Rio de Janeiro, inicialmente apoiou esta iniciativa, reconhecendo a posse boliviana das terras.
No entanto, comerciantes de Manaus, autoridades estaduais amazonenses e os colonos brasileiros no Acre não se conformaram com a perda de lucros e impostos. A pressão sobre o governo federal para mudar de atitude aumentava, mas o Rio de Janeiro hesitava em adotar uma postura expansionista que poderia antagonizar os vizinhos hispano-americanos.
Intervenção dos Estados Unidos
USS Wilmington
A situação complicou-se com a entrada dos Estados Unidos na equação. Após diversas expansões territoriais, os EUA mostravam interesse na América do Sul. Em 1899, a canhoneira estadunidense USS Wilmington entrou no rio Amazonas sem autorização e navegou até Iquitos, no Peru. O capitão do navio encontrou-se com o embaixador boliviano no Brasil e firmou um acordo secreto que garantia a posse boliviana do Acre com o apoio militar dos EUA, em troca de privilégios de exploração.
A República do Acre
A descoberta deste acordo gerou um movimento entre os amazonenses para que o Acre fosse controlado pelo Brasil. Em 1899, os brasileiros da região proclamaram a independência, criando a República do Acre. Este território, com cerca de 190 mil km² e uma população de 10 mil habitantes, teve a sua independência declarada e revogada várias vezes entre 1899 e 1903. O governo brasileiro manteve-se neutro, enquanto os acrianos agiam por conta própria.
Intervenção Brasileira e Integração do Acre
A criação da Bolivian Syndicate nos EUA, para explorar os seringais acrianos, fez com que o governo brasileiro finalmente interviesse. Temendo uma possível anexação do Acre pelos EUA, o Brasil ocupou oficialmente a região e propôs compensações à Bolívia. Em 1903, através do Tratado de Petrópolis, a Bolívia aceitou a proposta brasileira, cedendo o Acre em troca de compensações financeiras e territoriais.
Conclusão
A história do Acre é um exemplo de como questões geográficas, económicas e políticas podem moldar o destino de uma região. De território negligenciado pela Bolívia, o Acre transformou-se em uma área de intensa colonização brasileira, culminando na sua integração definitiva ao Brasil. Este episódio ilustra a complexidade das relações internacionais e a influência de potências estrangeiras na definição das fronteiras nacionais.
*Mariana Costa, uma colaboradora dedicada na Smartenciclopédia, cuja expertise reside nos intrincados domínios da diplomacia, geopolítica, relações internacionais e ciências sociais. O comprometimento de Mariana com essas áreas adiciona imenso valor à nossa plataforma.